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BONDADE E MISERICÓRDIA PARA SEMPRE

Salmo 23

 

Salmo de Davi.

1 O SENHOR é meu pastor, e nada me faltará. 2 Ele me faz repousar em verdes pastos e me leva para junto de riachos tranquilos. 3 Renova minhas forças e me guia pelos caminhos da justiça; assim, ele honra o seu nome. 4 Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado. Tua vara e teu cajado me protegem. 5 Preparas um banquete para mim na presença de meus inimigos. Unges minha cabeça com óleo; meu cálice transborda. 6 Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, e viverei na casa do SENHOR para sempre.  

 

O ciclo da vida

O verso 6 é o nosso texto para hoje. Diz assim:

Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, e viverei na casa do SENHOR para sempre.

O ser vivo nasce, cresce, se reproduz e morre. Esse é o ciclo de vida que aprendemos desde criança nas aulas de ciências. Nascer, se desenvolver e morrer são eventos naturais que fazem parte do ciclo de vida de qualquer organismo.

Os seres humanos, diferente dos outros seres vivos, sabem que terão um fim. Afinal, todos nós já passamos uma experiência de morte em nossas vidas. Temos, portanto, consciência da morte. Entretanto, “a morte não é abordada com qualquer enfoque especial, ou diferenciado dos outros seres vivos nas aulas de ciências, particularmente na Biologia.” Essa foi a conclusão de uma pesquisa realizada por um aluno de mestrado no Núcleo de Tecnologia para a Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Nessa pesquisa de mestrado, o aluno traz um dado bastante interessante. Citando dois autores do campo de pesquisas médicas, ele atesta que

existem muitas dificuldades entre os estudantes de medicina em lidar com a morte e com o morrer,[…] as escolas médicas ainda não assumiram compromisso educacional com o assunto, embora os avanços tecnológicos da intervenção médica — transplantes, clonagem, criogenia [congelar cadáveres para ressuscitá-los um dia], eutanásia — destaquem sua importância nos dias atuais […] há tentativas no sentido de mudar tal quadro, mas ainda não estão propriamente consolidadas.

A morte hoje é vista como um assunto mórbido, velado, quase proibido e que é ocultado ao máximo. O autor da referida pesquisa de mestrado afirma que

a aversão dos adultos de hoje [diferente dos do passado] em transmitir às crianças os fatos biológicos da morte, ou seja, os aspectos físicos de decomposição do corpo e finitude orgânica, é apenas uma das peculiaridades da nossa civilização.

Para esse pesquisador, a solução é refletir sobre o tema com os alunos das aulas de ciências. Ele conclui seu trabalho dizendo assim:

Os resultados da pesquisa permitem refletir sobre a grande importância que as aulas de ciências podem apresentar como espaço cultural. Propiciar informação científica e valores humanos é o objetivo da formação científica da escola básica, na medida que favorece a formação de cidadãos críticos.

Mas, eis o problema: como discutir “valores humanos” ou apresentar “esperança” diante da inevitabilidade da morte se o que se tem para apresentar aos alunos em sala de aula são apenas, nas palavras do mestrando, “fatos biológicos da morte, ou seja, os aspectos físicos de decomposição do corpo e finitude orgânica”? Simplesmente não dá!

De onde virão os “valores humanos”, da matéria orgânica? De onde virá a “esperança”, apenas desta vida? Como os alunos irão se tornar “cidadãos críticos”, quando se foca apenas no mundo natural, ignorando por completo o sobrenatural e divino? Etc. Talvez seja por isso que haja tanta aversão dos adultos de hoje em transmitir às crianças seus conhecimentos sobre a morte.

Enquanto tratarmos, isto é: quando tratarmos!, o clico de vida do ser humano como sendo apenas nascer, crescer, se reproduzir e morrer, ficaremos sem argumento, e até desesperados, diante da realidade da morte.

A vida é muito, muito mais do que simplesmente nascer, crescer, se reproduzir e morrer. Davi, concluindo o Salmo 23, extrapola os limites desta visão de mundo reduzida. Para o salmista, eis como é o ciclo de vida do filho de Deus:

Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, e viverei na casa do SENHOR para sempre.

Note que Davi nos apresenta dois outros detalhes sobre o ciclo da vida — detalhes que são desprezados pelo homem moderno: Deus (“a bondade e o misericórdia”) e vida eterna (“casa do Senhor para sempre”).

De acordo com a Bíblia, a vida não se resume à procriação e evolução da espécie, nem se explica apenas pelos termos da biologia. Esse reducionismo científico, contrário do que se busca obter, desumaniza o ser humano — transforma-o num animal que, por ser racional, se desespera diante da realidade morte.

Bondade e misericórdia para sempre

Hoje, concluindo o nosso estudo no Salmo 23, permitam-me apresentar para vocês esses dois outros elementos inseparáveis do ciclo da vida que nós encontramos no versículo 6: Deus e a vida eterna.

 

A bondade e o amor

Davi argumenta que o ser humano pode viver sim de certezas:

Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, […]

Woody Allen, cineasta norte-americano, famoso pelos seus filmes com tramas existencialistas (filosofia que predomina em nosso tempo), disse assim:

Mais do que em qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto. O outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher.

Percebeu? Viu o desespero? Na cabeça das pessoas deste tempo, nós não temos qualquer certeza sobre como será o amanhã. Será a extinção? Como viver quando o existir é desesperador e a única certeza é que todos estamos caminhando para a extinção, fruto do caos que é a existência? É um desespero!

Não é à toa que a nossa era, que pensa existir apenas para cumprir o ciclo da vida — nascer, crescer, se reproduzir e morrer — seja marcada pelo entorpecimento: álcool, drogas, perversão sexual, consumismo etc. As pessoas se anestesiam para aguentar existir. Davi, porém, nos mostra que há uma certeza à qual se agarrar enquanto vivemos:

Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, […]

A bondade e o amor de Deus nos seguirão todos os dias de nossas vidas. Essa é a certeza. Existir é ser seguido, melhor: perseguido ou  caçado, pela bondade e pelo amor todos os dias de nossas vidas. Viver não é desesperador quando se tem essa consciência.

O substantivo bondade e o substantivo amor não existiriam por si mesmos. Eles não são produto de matéria ou de energia. Aurélio diz que bondade é “qualidade ou caráter de bom” e amor é “sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outra pessoa”.

Quem, portanto, estaria seguindo Davi com bondade e com amor todos os dias de sua vida? Deus. O Bom Pastor. O Senhor Jesus Cristo. Lá em Mateus, o Senhor, deixando suas últimas palavras aos discípulos, antes de subir ao céu, afirmou assim: “estou sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mt 28.20).

Segundo Davi, de que maneira o Senhor Jesus estaria ao lado dele, perseguindo ele, seguindo ele todos os dias? Com bondade e com amor ou misericórdia.

Wayne Grudem, em sua Teologia Sistemática, diz o seguinte sobre a bondade de Deus:

A bondade de Deus implica que ele é o parâmetro definitivo do que é bom, e que tudo o que Deus é e faz é digno de aprovação.

Sobre o amor de Deus, Grudem disse assim:

Dizer que Deus tem o amor como atributo [qualidade] é dizer que ele se doa eternamente aos outros.

No Salmo 23.6, tanto amor como misericórdia são usados para traduzir a mesma palavra hebraica. Misericórdia, segundo Wayne Grudem, significa que Deus é “bondoso para com os angustiados e aflitos”. Ou seja: Deus ama tanto e de tal maneira, que se entrega para socorrer, ajudar, redimir e salvar os angustiados e aflitos.

Dentre tantos outros atributos ou qualidades de Deus, por que Davi destaca nesta conclusão de seu salmo a bondade e a misericórdia do Bom Pastor?

O cristão esta numa jornada a caminho de casa, da casa do Senhor. Nessa estrada, como bem apontou Lutero em seu comentário deste texto de Davi,

o diabo nunca para de atormentar os crentes — interiormente com terror, externamente com as artimanhas de falsos mestres e o poder dos tiranos — e o salmista aqui no final pede fervorosamente que Deus, que lhe deu o tesouro do céu, também o guarde nele até o fim.

A caminho de casa, peregrinando nesta vida, todos nós precisamos de bondade e de misericórdia. Por quê? Charles H. Spurgeon diz que enquanto a bondade cuidada de prover para as nossas necessidades, a misericórdia se ocupa de perdoar os nossos pecados. O príncipe dos pregadores continua:

Esses anjos guardiões gêmeos — bondade e misericórdia — estarão sempre comigo, na minha guarda e na minha retaguarda (à frente e atrás de mim). Assim como quando grandes príncipes ou reis viajam para outros países e não ficam sem vigilância, assim é com o crente. A bondade e a misericórdia seguem-no sempre — “todos os dias de sua vida” — nos dias nublados e nos ensolarados, nos dias de jejum e nos dias de festa, nos dias tristes de inverno e nos alegres de verão.

Estamos, pois, todos bem servidos pela bondade e pela misericórdia de Jesus Cristo.

 

Casa do Senhor para sempre

Aqui nós estamos de passagem, pois, conforme diz Davi:

viverei na casa do SENHOR para sempre.

Casa do Senhor é vida eterna. Eis, pois, o que, na definição de Jesus, é a vida eterna:

Jo 17.3 | E a vida eterna é isto: conhecer a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste ao mundo.

Vida eterna não é apenas o céu além. Começa aqui e agora quando conhecemos, pela fé, o Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo. Vida eterna é relacionamento pessoal e íntimo com Jesus. Trata-se de um convívio que é nutrido pela fé nas promessas de Deus, conforme estão reveladas nas Escrituras.

Vida eterna começa aqui e agora, através de um relacionamento piedoso com o Pai, através do Filho e capacitados pelo Espírito Santo. Spurgeon, comentando esta ultima parte do Salmo 23.6, anotou o seguinte:

Um escravo não permanece na casa de seu senhor para sempre, mas o filho permanece. Enquanto estou aqui, serei uma criança em casa com meu Deus; o mundo inteiro será a sua casa para mim; e quando eu subir para o quarto no andar de cima eu não mudarei o meu convívio, nem mesmo a minha casa; eu só irei morar no andar superior da casa do Senhor para sempre. Que Deus nos conceda a graça de morar na atmosfera serena deste mais abençoado Salmo!

 

Que coisa maravilhosa!

O ciclo da vida – bondade e misericórdia para sempre

O ser humano certamente nasce, cresce, se reproduz e morre. Mas tem mais, muito mais do que só isso. Em Cristo Jesus é possível desfrutar da certeza revelada por Davi:

Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, e viverei na casa do SENHOR para sempre.

Não somos guiados pelos fatos do destino, pela determinação genética ou pela sina da cadeia evolutiva. A vida não precisa ser um desespero. Sim, é bem verdade que o pecado afetou todas as coisas e, além de nos separar de Deus, causou todos os estragos que nós experimentamos na natureza, no corpo, nas emoções e nos relacionamentos.

Aparentemente está tudo caótico, mas apenas para aqueles que se recusam a olhar para a graça de Deus revelada em Jesus Cristo. Sem Cristo a vida é sem a graça e pode ser desesperadora. Em Cristo, porém, tudo pode ser diferente.

O mundo não está entregue ao caos, ao desespero ou à extinção. Saiba que somos todos seguidos por um Deus que é bondoso e misericordioso, um Deus cheio de amor, que oferece-se a nós na pessoa de seu filho Jesus Cristo e que tem o controle da história em suas mãos.

Confesse o seu pecado e receba-o pela fé. Assim, você poderá dizer como Davi:

Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, e viverei na casa do SENHOR para sempre.

Termino com as palavras de Spurgeon:

Que Deus nos conceda a graça de morar na atmosfera serena deste mais abençoado Salmo!

 

Amém.

 

Leandro B Peixoto

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