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CORAGEM PARA CONFIAR

Salmo 23

 

1 O SENHOR é meu pastor, e nada me faltará. 2 Ele me faz repousar em verdes pastos e me leva para junto de riachos tranquilos. 3 Renova minhas forças e me guia pelos caminhos da justiça; assim, ele honra o seu nome. 4 Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado. Tua vara e teu cajado me protegem. 5 Preparas um banquete para mim na presença de meus inimigos. Unges minha cabeça com óleo; meu cálice transborda. 6 Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, e viverei na casa do SENHOR para sempre.

 

Introdução

Ao meditar no Salmo 23, chegamos hoje ao v. 4, na parte que diz: “Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado” (NVT). Outra versão traz: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo” (ACF). E numa versão bem mais contemporânea, lemos: “Eu posso andar pelo vale escuro, onde a morte está bem perto; mas continuo tranquilo e não sinto medo” (NBV).

Deixa eu te falar: se tem uma coisa que a ovelha mais precisa, é de coragem. Porque as ovelhas não têm nenhum mecanismo de defesa, elas não contra-atacam.

A ovelha não consegue lutar, porque não tem nada com que lutar: não tem força, não tem habilidade, não tem agilidade, não tem garras, não dentes preparados pra isso (as presas), ela não tem nada pra lutar. Isto faz da ovelha o animal mais dócil, o mais inofensivo do mundo.

 

Então, pra que é que a ovelha precisa de coragem? Talvez, alguém responda: “Ora, é pra lutar, partir pra cima do inimigo!”

Mas, veja bem: Tem uns cachorrinhos que latem toda vida. O pinscher, o fox paulistinha, são cãezinhos de 20 ou 30 centímetros e 3 quilos! Eles vêem um cavalo e tem coragem de enfrentar: rosnam, latem e partem até pra morder, mas sem chance, não é? A vantagem é que eles são rápidos e dão no pé.

Mas, e a ovelha? Pra que ela precisaria de coragem? Não é pra lutar porque ela não tem nada com que lutar.

As ovelhas poderiam ter a coragem de um leão pra lutar, mas não conseguiriam nada diante de uma galinha que invadisse o seu pasto.

Portanto, ovelhas precisam de coragem, sim, mas não é para lutar. Ovelhas precisam de coragem para confiar no pastor. Entende isso? Coragem pra confiar, justamente porque não tem nada com que lutar.

 

Agora, é mais difícil ter coragem para confiar do que ter coragem para enfrentar.

Enfrentar é fácil. Você sente que dá, então, parte pra cima. Pensa: você tem que atravessar o nosso rio aqui, Paraíba do Sul, de canoa. Te colocam dentro e te dão o remo. Se você sente que dá, você vai. Você pode até dizer: “Eu nunca fiz isso aí mas explica como se rema e deixa comigo”. Beleza. Se sentiu preparado, você enfrenta.

Mas, e confiar? Confiar é diferente, é mais difícil. Eu e Tânia fizemos amizade com o Rangel e sua família. O Rangel é pescador experiente, é profissional. Almoçamos juntos num domingo antes da pandemia, claro, e após o almoço ele nos convidou pra irmos à ilha de barco. Chegando à beira rio, eu vi que o que ele chamava de barco, estava mais para canoa, só que motorizada. Ele disse: “entrem”. Entramos no barco com ele e partimos rio adentro. Eu estava receoso o tempo todo; sequer prestei atenção na paisagem tão linda do Paraíba do Sul, porque: correnteza, barulho das águas, balanço do barco, conversa fiada (“oh! esse ponto do rio é fundo!”)... então, eu posso te dizer uma coisa: confiar não é fácil, não.

Foi a segunda viagem de canoa que eu fiz na vida (a primeira foi com o pastor Rogério, no nosso perído de estudos no seminário; ele nos levou para conhecer Ernesto Machado).

Quando você não se sente preparado, mas tem alguém ao seu lado que está e sabe, mesmo assim, eu te falo por experiência, não é fácil confiar. Mas, se você confia um pouquinho que seja, você se entrega e enfrenta a situação. E aquele foi um Domingo maravilhoso que tivemos com o Rangel e Marilene.

 

Mas, é verdade: confiar e se entregar, mesmo quando se trata de Deus, não é tarefa fácil para ninguém. É preciso fé e isso é dom de Deus.

Seria bom se pudêssemos confiar como fez o apóstolo Paulo, que disse aos coríntios: “Em três ocasiões, supliquei ao Senhor que o removesse [espinho na carne], 9 mas ele disse: “Minha graça é tudo de que você precisa. Meu poder opera melhor na fraqueza”. Portanto, agora fico feliz de me orgulhar de minhas fraquezas, para que o poder de Deus opere por meu intermédio. 10 Por isso aceito com prazer fraquezas e insultos, privações, perseguições e aflições que sofro por Cristo. Pois, quando sou fraco, então é que sou forte”.

Irmão, temos inimigos que nos ameaçam dia e noite; esses inimigos são: o mundo com o seu sistema ímpio de valores que nos pressiona para que nos conformemos com eles; a carne com a sua inclinação para a prática do pecado; e o diabo com a sua astúcia para entrar e agir em todas as áreas da vida, nas quais dermos brechas pra ele – mas, contra esses inimigos, nada temos em nós mesmos para lutar contra eles.

Diante desses inimigos ferozes (o mundo, a carne e o diabo), somos como ovelhas inofensivas, que não tem com o que lutar.

Ah! Mas, é nessa hora que o Senhor Jesus Se apresenta como o Bom Pastor, que está perfeitamente preparado para guardar e cuidar de todos nós diante dos perigos na vida. Ele já é o seu Pastor?

Porque, a nossa parte, como ovelhas do rebanho do Senhor, é tão somente ter coragem para confiar nEle e dizer: “Ainda que eu ande por um vale escuro como a morte, não terei medo de nada. Pois tu, ó SENHOR Deus, estás comigo; tu me proteges e me diriges” (NTLH).

O “vale da sombra da morte” ou “vale escuro como a morte”, pra ser entendido corretamente, é preciso pensar na prática dos bons pastores de ovelhas dos tempos bíblicos em Israel.

Eles trocavam as ovelhas de pasto conforme as necessidades. No período de Verão, as ovelhas do bom pastor eram levadas para os pastos mais altos e beneficiados por sombra e água. As ovelhas dos pastores descuidados, sofriam com o tempo de seca e calor.

Com a chegada do Inverno, os bons pastores desciam com o rebanho para os lugares baixos, menos frios do que no alto das montanhas.

Mas, essa mudança de pastos muitas vezes era dramática, porque o pastor precisava conduzir suas ovelhas por montanhas, cortando vales, passando à beira de rios de correnteza forte, terrenos irregulares, cheios de ervas venenosas e onde animais predadores podiam estar à caça.

Davi, o salmista do Salmo 23, ele conhecia, por experiência própria, as dificuldades e os perigos dessas jornadas com as ovelhas pelas montanhas. Davi, cuidava das ovelhas do pai. Sabia dos riscos de morte que as ovelhas enfrentavam; e como bom pastor que era, soube cuidar bem das ovelhas, mesmo tendo que conduzi-las em meio aos vales sombrios e perigosos.

E o maravilhoso é que essa experiência, por inspiração divina, Davi reflete no Salmo 23. Ele considera o Senhor Deus como pastor pra ele, e ele como ovelha do Senhor. Inclusive, é assim que ele inicia o Salmo: “O Senhor é o meu pastor”.

E por isso, mais adiante, ele pode dizer: “Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado” – ele diz: “O Senhor está ao meu lado em cada situação, provação, frustração ou problema que eu tiver na vida”.

 

A ovelha precisa dos pastos na parte mais alta da montanha de vez em quando. Isso significa ter que passar pelo vale escuro da morte, por aqueles lugares sombrios e circunstâncias duras e difíceis.

Na vida cristã, há vezes que falamos assim: “Eu preciso entrar na presença de Deus” ou “eu preciso buscar a presença de Deus” e coisas desse tipo. Essa necessidade é como subir para os altos montes.

É uma necessidade que temos como criaturas de Deus. Fomos criados para viver na presença de Deus e quando não estamos, o coração sofre esse anseio.

E depois de termos nascido de novo, espiritualmente falando, a Bíblia nos recomenda buscar as coisas do alto. O apóstolo Paulo diz assim (Cl 3.1-3): “Uma vez que vocês ressuscitaram para uma nova vida com Cristo, mantenham os olhos fixos nas realidades do alto, onde Cristo está sentado no lugar de honra, à direita de Deus. 2 Pensem nas coisas do alto, e não nas coisas da terra. 3 Pois vocês morreram para esta vida, e agora sua verdadeira vida está escondida com Cristo em Deus”.

Quando não conseguimos experimentar esses lugares altos, lembramos daqueles que conseguem e deveríamos nos perguntar: como chegaram lá? Como chegaram tão alto na vida espiritual que desfrutam?

Não pense que foi de repente, num piscar de olho ou estalar de dedo. Ninguém é “puxado” para esse lugar alto, de mais presença de Deus, de um momento para o outro.

Isso acontece como se dá na criação de ovelhas: nós só chegamos aos lugares altos da vida cristã, ao nível de fé robusta, alegria exuberante, ânimo contagiante, subindo pelos vales, passando pelas experiências duras e difíceis. Não tem atalho.

 

Agora, devemos notar que o v.4 do Salmo 23, afirma o seguinte: “Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte”.

Não está dizendo que o vale é o fim da jornada, porque não fala em ficar parado no vale ou de morrer no vale, mas sim, de andar, atravessar o vale.

Isso é maravilhoso! Todos teremos que andar pelo vale escuro da morte, mas como filhos de Deus que somos, o vale da morte não é o nosso fim, porque a morte para o crente é a porta de acesso a vida mais elevada, que é a vida eterna no céu com Deus e com todos da família de Deus.

A morte é um vale escuro a ser atravessado, mas para todo crente em Jesus, esse vale dá para o monte da vida mais perfeita no céu com Deus. Aleluia!

Olha o que o livro de Apocalípse revela (Ap 7.13-17): “Então um dos anciãos me perguntou: “Quem são estes vestidos de branco? De onde vieram?”. 14 Eu lhe respondi: “Senhor, tu sabes”. E ele disse: “São aqueles que vieram da grande tribulação (do grande sofrimento). Lavaram e branquearam suas vestes no sangue do Cordeiro. 15 Por isso estão diante do trono de Deus e dia e noite o servem em seu templo. E aquele que se senta no trono lhes dará abrigo. 16 Nunca mais terão fome, nem sede, e o calor do sol nunca mais os queimará. 17 Pois o Cordeiro que está no centro do trono será seu Pastor. Ele os guiará às fontes de água viva, e Deus enxugará de seus olhos toda lágrima”.

Os vales são sombrios, mas também são lugares onde há os melhores suprimentos de água e comida.

Durante a mudança de pasto, a jornada é cansativa para o rebanho que pode sentir sede intensa, mas, passando pelos vales, as ovelhas podem se refrescar e matar a sede.

Irmão, ninguém está livre de passar pelo vale, mas como crentes, saibamos de uma coisa: nos vales estão as melhores águas da parte de Deus. Você passa por situações difíceis, há dias que são sombrios, tensos, mas no vale você aprende a encontrar em Deus, na comunhão com Ele, na Palavra dEle, o refresco para a sua alma sedenta.

 

Preste atenção em alguns trechos do Salmo 119: “Tua promessa renova minhas forças; ela me consola em minha aflição” (v.50). “Se tua lei não fosse meu prazer, eu teria morrido em meu sofrimento” (v.92). “Sofri muito, ó SENHOR; restaura minha vida, como prometeste” (v.107). “Vê meu sofrimento e livra-me, pois não me esqueci de tua lei” (v.153).

Nos vales ainda estão as mais ricas fontes de alimento, ali cresce a melhor relva. Os vales são frutíferos.

Irmão, é nos vales da vida, naqueles períodos duros e difíceis, que o crente se robustece espiritualmente.

Não tenha receio de passar pelo vale. Tenha coragem de confiar no Senhor, o seu divino Pastor.

Como assim? Como posso atravessar o vale escuro da morte com confiança?

 

O salmista Davi nos mostra como, olha o que ele diz: “Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado”.

Primeira coisa importante: Não fique surpreso quando em algum momento da vida, você chegar ao vale. Jesus disse que atravessaríamos os vales quando falou: “no mundo tereis aflições” (Jo 16.33). Conte como certo que haverá vales ao longo da vida. Assim, você evita decepções.

 

Segunda coisa: faça do vale uma oportunidade para buscar mais a Deus. Note que, no começo do Salmo 23, Davi fala de Deus (“Ele é o meu pastor”), mas, agora, chegando ao vale, o salmista fala com Deus: “Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado”. Davi faz oração, Davi fala com Deus!

Aproveite os vales para crescer na intimidade com Deus.

 

Terceira coisa importante: na vida nesse mundo, se apegue ao máximo à única coisa que realmente vale a pena: a presença de Jesus – Davi disse: “não terei medo, pois tu estás ao meu lado”.

A única coisa que temos e que realmente vale a pena nesta vida é termos a presença de Deus conosco.

O melhor dessa vida não são os bens materiais, a satisfação dos prazeres. O que mais importa nessa vida é termos Jesus conosco.

 

E, por último, a quarta coisa importante: Tenha coragem para confiar no Senhor. Não é coragem pra lutar, mas coragem para confiar em Deus até o fim.

Irmão, se o Senhor é o seu pastor, você poderá dizer com fé: “Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado.” Meu destino final é o céu, é a glória eterna. Aleluia!

Por isso, receba coragem! Coragem para confiar em Deus!

 

Pr Walter Pacheco da Silveira, 2.08.2020

Fonte: Leandro B Peixoto

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