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O ESCÂNDALO DA ENCARNAÇÃO

Mateus 1.1-25

 

Estamos prestes a celebrar o Natal. Em todos os lugares somos lembrados deste fato, pois vemos tudo enfeitado. Mesmo tendo que enfrentar um momento de crise financeira, o comércio vive na expectativa de que esta quadra festiva seja uma boa época para os negócios. Natal é símbolo de alegria. É a festa da família e da confraternização.

 

Só pensa isto quem não conhece a verdadeira história do nascimento de Jesus. Natal só é a festa da alegria para aqueles que estão completamente alienados da realidade sobre Deus. Natal só é a festa da família para aqueles que nunca se preocuparam em saber o verdadeiro sentido do Natal. O nascimento de Jesus acontece no mais completo abandono. O casal está só, longe dos familiares e têm por companhia os animais.

 

Aqueles que conhecem a história do Natal sabem que ele está envolto em escândalos. A encarnação de Jesus é o fato mais escandaloso de toda a história da humanidade e se alguém tentar dizer o contrário é porque ainda não se debruçou pacientemente sobre o tema.

Sei que corro um risco muito grande ao afirmar isto, mas espero que tenham paciência e acompanhem a minha linha de raciocínio até o fim e então compreenderão que estou certo.

 

Por que eu afirmo que o Natal está envolto em escândalo?

 

Vejamos, porque faço tal declaração

A encarnação está envolta no escândalo de uma gravidez antes do casamento (Mt 1.18-25; Lc 1.26-38). Todos nós afirmamos a pureza no casamento. A Bíblia deixa claro que o sexo é para ser vivido dentro da vida conjugal. O sexo é para ser vivido dentro do casamento. É por isso que o autor de Hebreus afirma: "Honrado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; pois aos devassos e adúlteros, Deus os julgará." (Hb 13.4). Entretanto, olhamos para o momento máximo da história da humanidade e vemos uma jovem, que está noiva, esperando o momento de casar para poder vir a ter relações com o seu marido e eis que, esta jovem aparece grávida. Imaginem o escândalo que foi na pequena aldeia.

 

A encarnação está envolvida no escândalo da jovem solteira que tem um namorado e aparece grávida e o mais grave é que o namorado é íntegro e não teve nada com ela. Por este motivo ele tenta deixá-la em secreto. Ele não desejava expô-la publicamente. Ele não queria envergonhá-la, só que o Senhor, o Deus da conspiração vai enviar seu mensageiro para dizer que ele deve aceitar a jovem.

 

Notem bem, há o escândalo da gravidez antes do casamento. E mais sério e grave ainda, o noivo aceita a situação e por isso, compromete-se em assumir um filho que não é seu. Imaginem os comentários. Eu sei que em nosso meio isto não daria falatórios. Ninguém falaria de Maria quando ela passasse na rua e muito menos de José.

 

O escândalo da encarnação faz com que a jovem corra perigo de vida e que o seu noivo, sendo um homem honesto, primeiro tente abandonar seu compromisso. Entretanto, o Senhor age e modifica a situação e faz com que ele permaneça e assuma o filho como sendo seu. José em obediência a revelação do Senhor assumi uma culpa que não é sua.

 

A encarnação está envolta do escândalo da ascendência (Mt 1.1-17). Hoje não nos preocupamos em saber quem são os nossos ancestrais. Não estamos interessados na nossa árvore genealógica, a não ser que sejamos mórmons. Entretanto, nos dias do José e Maria a genealogia era de suma importância. Saber quem eram os seus ancestrais era muito significativo, pois isto nos dava direito de participar ou não de determinada atividade religiosa. A genealogia nos liga a história de um povo. Nos torna parte de um processo continuado do agir de Deus.

 

Quando olhamos para a ascendência de Jesus, vemos que ela não dignifica ninguém. Os ancestrais de Jesus são motivos de vergonha. Eles deixam qualquer pessoa escandalizada. Qualquer pessoa de bom senso não iria querer se identificar com uma árvore genealógica como esta. Vejam que aparecem reis espúrios, que desonraram ao Senhor. Permitam-me falar apenas de alguns. Um deles nós temos como o grande sábio. Quando pensamos em Salomão como o grande sábio, mas esquecemos que foi ele quem introduziu a idolatria em Israel e foi por este motivo que o povo foi levado para o cativeiro. Roboão, seu filho é responsável pela divisão do reino e vejam a crueldade dele. Vejam o que ele diz ao povo: "Assim que, se meu pai vos carregou dum jugo pesado, eu ainda aumentarei o vosso jugo; meu pai vos castigou com açoites; eu, porém, vos castigarei com escorpiões." (1 Rs 12.11). Quero falar de mais um rei. Este é Manassés, seu nome significa fazendo esquecer-se. Que seja esquecido. Ele reintroduz toda a idolatria em Judá. Ele foi um rei sanguinário e sacrificou seus filhos no vale de Hinom (1 Rs 21.1-18). É interessante que as genealogias não costumam apresentar as mulheres, mas aqui encontramos algumas mulheres. Encontramos a moabita Rute. Estrangeira e natural de Moab terra dos inimigos de Israel. Também encontramos a prostituta Raab, que acolheu os espias que foram fazer o reconhecimento de Jericó. Na genealogia de Jesus nos deparamos com a miscigenação do povo. Também vemos Peres, que foi filho Tamar, a adúltera que Jacó queria matar, mas teve que voltar atrás no seu desejo porque sua gravidez era resultado da relação que tivera com o sogro (Gn 38.12-30). Que árvore genealógica terrível!

 

Quem teria coragem de assumir que na sua ascendência encontram-se gente de padrão não recomendável? Quem assumiria que na sua ascendência tem uma prostituta?

 

É verdade, a encarnação nos apresenta o escândalo da nossa ascendência. Ela mostra a nossa pecaminosidade (Rm 3.23). Ela indica que estamos perdidos e que carecemos de um Salvador.

É neste escândalo que entendo a humanidade, pois Deus se identifica com o ser humano e o aceita como é.

 

A encarnação manifesta o escândalo do Deus que se humilha e se faz um de nós. Este é um conceito perigoso se não for bem trabalhado, mas vejam o que diz o apóstolo Paulo quando escreve aos filipenses: "Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz." (Fp 2.5-8). Aqui vemos a auto-humilhação de Deus. Este é o escândalo da encarnação. Deus o Todo-Poderoso, aceita se tornar um de nós, passar pelas nossas aflições e assim mesmo ser o nosso Salvador.

 

O Senhor não desiste de nós. Ele é o Deus da salvação. Ele é o Deus que se iguala a nós e nos propicia o caminho da salvação. Ele é o Deus que se entrega e porque se entrega assume o nosso lugar. Ele se faz pecado por nós (2 Co 5.21).

 

O escândalo da encarnação fala-nos da auto-humilhação do Senhor, mas esta auto-humilhação é canal de bênção para os que sofrem. Ela é o caminho da justificação da humanidade. Contudo, entendamos que ela nunca é auto-glorificação humana. Deus, o Senhor Jesus assumiu a nossa dor para que pudéssemos ser perdoados pelo Senhor Jesus. Qual será a nossa atitude em relação a este fato?

 

A encarnação é um escândalo porque o Deus Todo-Poderoso se torna maldito por amor de nós (Gl 3.13-14). Ele tornou-se maldito para que eu e tu pudéssemos ter direito a bênção de Abraão.

 

Notem que na encarnação Deus se faz um de nós. Na encarnação, Deus humaniza-se e na sua humanização nos manifesta a glória do Pai e permite-nos que possamos estar diante do Pai sem sermos consumidos. O prólogo do evangelho de João neste aspecto é extraordinário (Jo 1.1-4). Ele diz claramente que Jesus é Deus, mas o versículo 14 encontramos o seguinte: "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai." (Jo 1.14).

 

A encarnação nos apresenta o escândalo do Deus que sofre por amor. É por causa deste amor que nós podemos compreender o fato de que o amor é sofredor (1 Co 13.7). É no escândalo da encarnação que Deus sofre por nós na cruz do calvário. Contudo, é através do escândalo da encarnação que podemos entender que a morte não é o fim, mas sim a porta de entrada para a eternidade e o desfrute da verdadeira vida.

 

Guisa de Conclusão

O Natal está a se aproximar. As pessoas estão a correr para fazer suas compras, mesmo diante da crise. Elas buscam soluções para poder festejar da melhor maneira possível. Para muitos é apenas a festa da família e um tempo de férias. Esta época já não nos fala mais da encarnação.

 

É verdade, cada um quer viver a sua vida sem refletir nas implicações da encarnação de Jesus. Nesta época ouvimos sempre as mesmas mensagens que são apenas palavras vazias. "Seria bom que todos tivessem o que comer", "Que haja paz na terra", "Que seja um momento de perdão", mas ficam apenas nas palavras. Contudo, o desafio que nos é apresentado como discípulos de Jesus, pessoas que compreenderam o verdadeiro significado da Encarnação é o de anunciar esta mensagem escandalosa.

 

Não esqueçamos que "nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos" (1 Co 1.23). A encarnação é um escândalo porque nos apresenta o Deus Todo-Poderoso que aceita ser maldito na cruz por amor de nós, mas também é loucura, pois como pode Deus, sendo Deus sofrer e morrer numa cruz?

Este escândalo e loucura acontecem por causa do grande amor de Deus e que nunca nos esqueçamos que nós somos este objecto amado (Jo 3.16).

 

Que reflitamos neste dia no escândalo da encarnação e possamos como os pastores vislumbrar o céu aberto e ouvir a mensagem que de lá vem, afirmando que à terra é dada a oportunidade de desfrutar da verdadeira paz, desde que aceite aquele que encarnou para ser o nosso Salvador.

Que seja assim e se faça assim para a glória de Jesus.

 

Marcos Amazonas

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