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COM O PÉ DIREITO – TEMPO DE MEDITAÇÃO

Salmo 1.1-2

 

“Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite” – NVI.

Começamos hoje uma nova série de mensagens, chamada: Com o Pé Direito, redefinindo prioridades para começar bem.

Porque já estamos interessados que 2018 seja um ano bem aproveitado. E para isto ser alcançado, como toda conquista requer, é preciso disciplina. Nenhum jogo se vence sem disciplina; nenhuma vitória se alcança sem disciplina.

E é interessante que na história de vida de homens e mulheres que foram muito abençoados por Deus, nós percebemos que as conquistas que tiveram, a própria vida abençoada que viveram, é fruto da disciplina que foi aplicada na caminhada cristã de cada um.

 

A história está repleta de homens e mulheres que praticaram a disciplina cristã e falaram, por escrito, de como a disciplina cristã é a base para uma espiritualidade saudável e, por consequência, uma vida abençoada.

João Calvino, por exemplo, disse que não existe espiritualidade sem disciplina, que a disciplina é, na verdade, a força que move a verdadeira espiritualidade.

Ou seja, o poder do Espírito Santo não é um poder sobrenatural que atinge você de qualquer maneira ou sem que você faça algo para isso. Não é assim.

O poder do Espírito Santo na sua vida, é fruto da graça de Deus, mas Ele encontra espaço no coração daquele que vive diariamente diante de Deus. É fruto da disciplina.

Portanto, a verdadeira espiritualidade, o andar diariamente com o Espírito Santo, coisa que só resulta em bênçãos, é fruto da disciplina.

Pois bem, nós vamos falar nesta série, de algumas disciplinas que antecedem a vida abençoada. São disciplinas que você aplica na sua vida e então, elas geram bênçãos para a sua vida.

Eu quero convidar você para semana após semana, encontrar aqui na comunidade, com alguma disciplina que vai tocar o seu coração. E a primeira disciplina é essa: O tempo de Meditação.

É interessante isso. Há práticas existentes na espiritualidade cristã que precisam ser resgatadas porque foram desprezadas, e são fundamentais para a vida abençoada.

O grande problema, porém, é que nós vivemos hoje, num mundo que está em caos, num mundo que acelerou a nossa alma. Não existe mais o tempo para a meditação. Nós vivemos numa sociedade que acelerou a nossa alma.

Isto te afeta. Você vive numa sociedade caótica, desordenada, confusa e que está gerando em você dois sentimentos. Primeiro, um sentimento de inadequação.

A sociedade como está hoje, faz sentir que você é inadequado naquilo que é, naquilo que possui, naquilo que sonha e aí, você é levado para a necessidade de consumir.

Ou seja, a sociedade te faz sentir com uma inadequação tal, que te leva ao consumismo e o consumismo gera na gente, necessidades que nós não temos ou necessidades que você pensava que não tinha e que agora tem.

Por exemplo, para a sociedade de hoje em dia, o celular que você tem está inadequado, você deveria ter outro. A casa em que você mora está inadequada, devia construir outra. A televisão, se você assiste, está inadequada. Precisa de outra. O computador que você usa está inadequado, precisa de outro. O seu cabelo é inadequado, o seu peso é inadequado, a sua roupa é inadequada.

O que isso gera na gente? Uma aceleração na alma, uma necessidade de consumir. E diante da necessidade do consumo e a impossibilidade de adquirir aquilo que nos tornaria de fato adequados, gera na gente uma aceleração na vida.

Antes a pessoa trabalhava 8 horas por dia, mas começou a trabalhar 12, 15, 20 horas! Tinha um emprego, mas passou a ter dois empregos, porque a alma foi acelerada por esse sentimento de inadequação.

As propagandas são feitas para provar que você é inadequado. A informação que você recebe, prova que você é inadequado. Os amigos, provam que você é inadequado. Os seus sonhos frustrados, provam que você é inadequado... e o que isso vai gerando em você? Uma necessidade profunda de consumo.

 

E quando você percebe que a vida vai passando e a coisa não vai funcionando do jeito que você planejou, a sua alma entra em angústia, estresse.  E o Ano Novo vai chegar, vai começar, mas o que você tem no seu coração é pessimismo.

Você olha pr’o fato do Ano Novo que tá chegando e fala assim: “Ano Novo só se for no nome, porque continua tudo velho, as mesmas coisas de sempre, Ano Novo feliz e próspero não existe”.

Nessa noite, eu não quero ser nem um otimista fantasioso, daqueles que você diga "xii, esse pastor é muito inocente" e, também não quero ser um pessimista que contribua para o seu desânimo. Eu quero trazer a realidade da Palavra de Deus para a sua vida, confiante de que você vai ser ajudado a começar com o pé direito. Amem?

Essa expressão “pé direito” é usada na engenharia, na construção civil. Fala do espaço livre entre o piso e o teto. Mas “entrar com o pé direito” é uma expressão popular que significa “começar bem alguma coisa”.

Tem jogador de futebol, pode ver, que só pisa no gramado com o pé direito, acreditando que esse é o jeito certo pra se conseguir um bom resultado.

Num passeio com a família à cidade de Petrópolis-RJ, visitamos a casa do inventor Santos Dumont, que mandou construir para o acesso à sua casa, uma escada onde só é possível subir, colocando, primeiro, o pé direito. É interessante, só dá pra subir aquela escada pisando primeiro com o pé direito.

Então, entrar com o pé direito, no popular, significa começar bem, começar do jeito certo. É o que nós queremos para 2018!

Eu estava dizendo que nós vivemos um tempo de aceleração na alma. Como? Através da sofisticação dos eletrônicos, por exemplo.

Você já percebeu que a gente tem muita coisa que faz a mesma coisa? Você tem um telefone celular que não é telefone, é um smartphone, que traduzindo para o português é um espertofone ou inteligentefone. Por que? Porque ele faz tudo aquilo que um computador faz.

Mas além do celular, você tem um computador! Lá em casa são três smartphones, um computador de mesa, um tablet e um notebook pra brincar e fazer pesquisas escolares. É a sofisticação da mesma coisa.

Eu lembro, anos atrás, de ter comprado um aparelho pra tocar CD e DVD. Cheguei animado em casa pra fazer surpresa à família. Seria o nosso eletrônico mais novo. O Davi era solteiro ainda, e me vendo todo prosa, desembrulhando o nosso novo aparelho, falou: “Pai, não precisava. O meu videogame toca CD e DVD, dá pra assistir filme à vontade!” A gente faz isso porque a sociedade nos leva a nos sentir inadequados.

É a mesma questão com o seu celular! Você já está inadequado com o seu, porque é velho. Eu tô sentindo daqui. Você comprou no Natal passado, fez festa quando chegou em casa, mas hoje, o seu tá inadequado, precisa de um novo!

Olha como está a sociedade de hoje em dia! Em 1977 não tinha Internet. Hoje não se vive mais sem Internet (pra alegria do Marquinho). Não dá pra trabalhar mais sem Internet. Ela é fonte de informação.

As companhias de TV a cabo estão em crise, porque não se vende mais assinatura. A Netflix chegou com tudo pra gerar entretenimento pela Internet.

Como está a sociedade hoje? Ah! Gasta-se bastante tempo nas redes sociais. Já percebeu quantas redes sociais você tem? É o Facebook, o Instagran, o Twitter, e outras mais... É a multiplicação da sua vida online.

Há pessoas que estão dentro de casa e que mandam WhatsApp uma pra outra, já viu? “Mãe, eu tô com fome”, pelo WhatsApp. E a mãe responde: “Tá quase pronto, filha ou filho” pelo WhatsApp.

E a individualização do entretenimento? Na década de 80, era chique falar que em casa a gente tinha duas “televisão”. Eu lembro, ter uma TV na sala e outra no quarto, era chique. Hoje em dia não, porque o entretenimento está individualizado, é cada um no seu.

 

Ninguém se reúne mais pra montar um quebra-cabeça em família, jogar jogo da memória, banco imobiliário. Hoje é cada um na sua.

O entretenimento é individual. Pra onde se vai tem que ter wifi, porque se não a pessoa entra em crise, ela fala: "Que chato, não tem nada pra fazer".

Você recebe uma visita em casa, recebe pessoas pra uma reunião da célula, e a primeira pergunta do visitante: “Qual é a senha do wifi?” Dá vontade de endurar na porta.

Hoje, a informação também chega em excesso, e isso gera um comportamento, gera a necessidade de consumo e o sentimento de inadequação. Você se sente inadequado e sente o desejo de consumir.

Não há mais tempo de descanso, de tranquilidade. Todo mundo hoje tem uma jornada dupla. Até as crianças saem da escola e depois tem aula de inglês, de música, de judô, etc. Nós vivemos num mundo acelerado. E olha que já no final da década de 70, Silvio Brito já cantava: "Pare o Mundo que eu Quero Descer".

Essa aceleração gerou pelo menos duas consequências que eu quero apontar.

A primeira é a distração. Nós nos tornamos seres humanos distraídos. A gente não percebe mais o outro e esse outro, às vezes, é o próprio cônjuge, o filho, o pai.

A gente não percebe mais os sinais que as pessoas enviam de que estão cansadas ou tristes, precisando conversar, receber atenção... às vezes um filho precisa de correção e a gente não percebe, porque estamos distraídos demais por conta dessa aceleração que a nossa alma sofreu.

E também vivemos a era da superficialidade. É como John Stott escreveu: temos um amplo conhecimento de Deus na mente, mas esse conhecimento é raso, superficial, não é profundo.

A gente conhece muita gente, mas é um conhecimento superficial. Nos tornamos distraídos do relacionamento com o outro, com Deus e com até com a gente mesmo.

Há pessoas que não percebem nem os sinais que o próprio corpo dá de que precisa de descanso, de que precisa de um tempo para cuidar da saúde e por aí vai.

E qual é o antídoto pra isto, meus irmãos? O celebrado autor de livros cristãos, Richard Foster, aponta o antídoto dizendo: “Se esperamos ultrapassar as superficialidades de nossa cultura - incluindo a cultura religiosa - devemos estar dispostos a descer aos silêncios recriadores, ao mundo interior da contemplação”. Ele fala da disciplina da meditação.

E esse autor, lembra em seu livro, que a meditação era uma disciplina comum dos filhos de Deus no passado bíblico. Em Gn 24.63 lemos de Isaque, que: “Certa tarde, saiu ao campo para meditar” (NVI). No Sl 63.4 lemos de Davi fazendo esta declaração: “Em meu leito, durante as noites de vigília, lembrar-me-ei de Ti e meditarei sobre a tua bondade” (KJA).

E, verdade, os Salmos, praticamente todos, são fruto das meditações do povo de Deus sobre, por exemplo, a Lei do Senhor. No Sl 119.148 está escrito: “Fico acordado nas vigílias da noite, para meditar nas tuas promessas” (NV).

O Salmo 1 faz um apelo para que todos imitemos o homem “bem-aventurado”, cujo “prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”.

Ao jovem Josué, que iria liderar o povo de Israel, Deus orientou: “Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite...” (Js 1.8).

 

Agora, o que é meditar? Numa maneira simples de dizer as coisas, meditar é mastigar. A gente lê uma palavra de Deus, por exemplo, e ficamos pensando nela, mastigando, isto é, pensando nos detalhes, observando... alguém diria matutando, que significa pensar demoradamente.

Mas, dizer mastigar é a forma simples de entender o que é a meditação.

Eugene Peterson, tradutor da Bíblia A Mensagem, que é a Bíblia numa linguagem contemporânea, bem do dia-a-dia, traduz o Salmo 1 da seguinte forma: “Como Deus deve gostar de você: você não aparece no Bar do Pecado, você não anda à espreita no Beco Sem Saída, você não frequenta a Escola dos Desbocados! Pelo contrário, você vibra com a Palavra do Eterno, você rumina as Escrituras dia e noite”.

Perceba essa palavra rumina. É o processo de mastigação do boi, da vaca, animais ruminantes.

Você sabe, a vaca come o capim, dá uma mastigada e engole. Mas, depois de engolir, ela traz o alimento de volta à boca, e aí fica ruminando, mastigando de novo, tem um gostinho diferente agora. Ela faz isso para que o alimento seja bem triturado e absorvido pelo organismo. Pode reparar, a maior parte do tempo, a vaca fica ruminando, mastigando o alimento.

Meditação é isso. Você fica pensando em algo de Deus, ruminando aquilo, trazendo de volta ao pensamento várias vezes, pra aborver bem no seu espírito.

Isso é parecido com o solilóquio, que é conversar com você mesmo. Que ver um solilóquio famoso? É aquele de William Shakespeare, que escreveu: “Ser ou não ser, eis a questão”. É uma fala consigo mesmo.

Outro solilóquio é o Salmo 42, quando Davi fala consigo mesmo, dizendo: “Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim?” Ele fala com ele mesmo, porque está pensando, refletindo, matutando, meditando.

 

Então, para a espiritualidade cristã, meditar é você se ocupar em pensar na glória de Deus, na beleza de Deus até que o seu coração fique absorvido por ela.

E é interessante que os textos mais bonitos da literatura mundial, foram escritos por pessoas que tiveram contato com a Palavra de Deus e que foram impactados por ela. Eles meditaram na Palavra de Deus e algo encheu o coração que eles escreveram coisas lindas e profundas.

Quer dizer, meditar você pode sobre qualquer coisa. Você pode meditar sobre o ensino de alguém, pode meditar sobre uma flor que se abriu no jardim, sobre uma poesia que alguém escreveu. Você pode meditar sobre uma paisagem da natureza.

Mas, preste atenção, isso vai mudar a sua vida? Não. O que traz bênção pra sua vida é a absorção da verdade de Deus, por isso que nós precisamos aprender a meditar nela, aprender a ter o nosso tempo de meditação na Palavra de Deus.

O Sl 19 é sobre o poder da Palavra de Deus. E nele, o rei Davi descreve seis vezes, o que a Bíblia é e o que ela faz.

Olha só (v.7-11): “A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes. Os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos. O temor do Senhor é puro, e dura para sempre. As ordenanças do Senhor são verdadeiras, são todas elas justas. São mais desejáveis do que o ouro, do que muito ouro puro; são mais doces do que o mel, do que as gotas do favo. Por elas o teu servo é advertido; há grande recompensa em obedecer-lhes”.

 

Este Salmo nos dá motivo para dar importância à Palavra de Deus. O rei Davi declarou: “Por elas o teu servo é advertido”. A Palavra de Deus nos instrui, nos dá avisos.

E avisos podem ser ignorados? Não devem. Imagina você na praia, pronto pra entrar na água, mas tem um aviso: “Tubarão. Não entre”. Não é bom ignorar o aviso.

Como meditar na Palavra de Deus, nas ações de Deus, na Pessoa de Deus?

 

Termino, mostrando isso. O Salmo 1, que dá abertura ao livro inteiro dos Salmos, começa descrevendo os benefícios de lermos e estudarmos as Escrituras. O salmista fala do estado de felicidade que as pessoas que amam a Lei de Deus, experimentam.

Ele diz v.2: “sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite”. A palavra traduzida por “meditar” (do hebraico hagah) poderia ser traduzida literalmente como “ler em voz baixa”, fazendo referência ao fato de pensar demoradamente sobre um assunto, a ponto de se falar sozinho, ou falar em voz baixa.

Meditar é isso. Na prática, busque um lugar tranquilo pra você estar, pegue uma Palavra de Deus pra ler e fica pensando nela, matutando, ruminando. Anote o que puder.

Ao meditar na Palavra de Deus, você vai compreender melhor o que Deus quer para a sua vida. Ao meditar, você vai receber orientação. Experimente!

Sua satisfação está na lei do Senhor. Comece com o pé direito!

 

Pr Walter Pacheco da Silveira, 3/12/2017

Baseado em IP Chácara Primavera

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