GUARDADOR DO MEU IRMÃO
Gênesis 4.9
A história de Caim e sua relação com Abel, seu irmão, é uma advertência a nós os que fomos chamados por Deus para uma vida de comunhão e aliança.
E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; acaso sou eu guardador do meu irmão? Gênesis 4:9
O desatino que ele cometeu, matando Abel, pode ser cometido por nós em outras formas e dimensões. Matamos pessoas quando as difamamos, quando as excluimos da nossa convivência, quando lhes negamos o perdão ou a oportunidade, quando as rotulamos impiedosamente. Enfim, há muitas maneiras de se liquidar alguém, seja em nosso coração ou no dos outros.
Essa “síndrome de Caim” que acomete muitos crentes hoje, começa com um relacionamento superficial com Deus, se agrava quando damos lugar aos complexos e à inveja, mas se torna uma calamidade em nosso interior quando assumimos a ADMISSÃO DA TRAIÇÃO E DA ANULAÇÃO DO OUTRO COMO MECANISMO LEGÍTIMO DE DEFESA. Caim foi capaz de enganar e matar seu irmão Abel, pensando que com isso resolveria o seu problema. O veneno da amargura o levou a perder completamente a noção do equilíbrio. Diz a Bíblia: “E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou” (Gn 4:8).
Como eu já disse, podemos matar sem derramar sangue: matar para os outros através de fofocas e calúnias, matar em nosso interior (excluindo as pessoas das nossas perspectivas).
Quando destruir a imagem do outro parece nos aliviar e ser o mais justo, já estamos no nível do pecado e prestes a colher as consequências que ele sempre traz. Nesse nível, ou entramos numa profunda experiência de arrependimento, ou causaremos muitos danos a nós mesmos e ao corpo de Cristo.
Se você, como Saul fez um dia, começou a atirar lanças a esmo contra seu irmão, está abrindo portas para atuação demoníaca em sua vida e colocando em risco sua própria salvação. A palavra trata a quebra de relacionamentos nesses termos: “Todo o que odeia a seu irmão é homicida, e vós bem sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele” (I João 3:15).
Quem anda nesse caminho é tomado por um louco SENTIMENTO DE IRRESPONSABILIDADE EM RELAÇÃO À VIDA ALHEIA. A pessoa que está dominada pela síndrome de Caim perde completamente a consciência da interdependência do corpo de Cristo. Sua mentalidade passa a ser “cada um por si”. Ela abdica, como se fosse possível, da responsabilidade pela integridade do outro. A Bíblia nos dá o seguinte relato: “E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; acaso sou eu guardador do meu irmão?” (Gn 4:9).
Quem não discerne o corpo de Cristo está andando no campo minado da maldição. Enfermidade, miséria e morte se estabelecem numa vida que se rebela contra a unidade da igreja. Do ponto de vista de Deus, somos sim guardadores dos nossos irmãos, responsáveis por sua integridade, pelo simples fato de que somos membros uns dos outros.
Deus não fica passivo diante desse tipo de pecado. Ele veio confrontar Caim e, diante de sua falta de arrependimento, estabeleceu juízo sobre sua vida. É assim que Ele sempre fará. Diante da nossa falta de quebrantamento e dos relacionamentos quebrados em sua casa, o Pai exercerá sempre disciplina. Paulo, apóstolo do Senhor, chega a dizer que muitas pessoas na igreja adoecem e até morrem por não discernirem o corpo de Cristo, ou seja, não respeitarem essa verdade de que dependemos uns dos outros e precisamos preservar a nossa unidade.
O pior estado a que um crente pode chegar é o da RESIGNAÇÃO DIANTE DE UMA PERSPECTIVA SOMBRIA PARA A O FUTURO. A fase final da síndrome de Caim se manifesta quando a pessoa não se importa ou não reage diante do caminho de morte que está trilhando.
Ela simplesmente se entrega ou arrisca-se a pagar para ver. A passividade já é sinal de morte.
Veja o que nos conta os versículos 13 e 14: “Então disse Caim ao Senhor: É maior a minha maldade que a que possa ser perdoada. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e vagabundo na terra, e será que todo aquele que me achar, me matará”. O que vemos aqui? Um homem entregue à maldição, indisposto a mudar pelo arrependimento a história terrível que seus atos haviam desenhado.
Caim terminou assim. Nasceu para ser bendito, foi recebido no mundo como um presente de Deus, mas terminou seguindo um caminho vergonhoso porque foi entregando o seu coração e deixando que o tempo fizesse o seu papel de piorar as coisas e levá-lo para abismos mais profundos. No começo era só uma situação simples, que podia ser superada. Como não foi, tornou-se uma síndrome mortal na vida desse homem.
A Palavra de Deus traz esses registros dramáticos para que sejamos alertados e não repitamos as tristes histórias. Eu e você fomos chamados à comunhão e à aliança, com Deus e com nossos irmãos. Precisamos vencer a nossa carnalidade, superar as nossas diferenças e honrar ao Senhor como filhos que se amam. Se formos reprovados nisso, nosso caminho se tornará difícil na terra, como foi o de Caim.
Danilo Figueira