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A PRESTAÇÃO DE CONTAS I

Gálatas 6.2

 

Introdução

Hoje, quero começar lendo uma carta que me chegou às mãos. Foi endereçada a um pastor e esse pastor a disponibilizou para mim. Ele fez isto porque esta carta realmente merece atenção, a atenção de todos em geral...

Caro Pastor:

Você me conhece bem. Sento-me no banco da frente na igreja todos os domingos - estou sempre ali. Ao sair, sempre o cumprimento com um aperto de mão e um sorriso. Você também parece contente em me ver.

Mas você não conhece muito bem a pessoa “real” que sou. Por trás do meu sorriso feliz encontra-se uma vida de certa forma desequilibrada. De vez em quando, você me pergunta como tenho passado e eu lhe digo: “Bem, e você?” (Aprendi que a maneira mais fácil de manter-me isolado é focalizar a atenção de volta na outra pessoa).

A verdade é que não estou certo de que você realmente deseja resposta. Sei que lida com uma porção de dor e sofrimento real: gente perdendo o emprego, a casa, a família, entes queridos. Francamente, fico um tanto envergonhado de conversar com você a respeito de onde me encontro espiritualmente. Eu deveria estar por cima de tudo - afinal, sou um empresário bem-sucedido.

Tentei dar uma olhada na minha vida, examinar os meus caminhos, mas a pura verdade é que não sei como fazer isso. Realmente aprecio os seus sermões. Eles mexem com as minhas emoções e espírito, mas segunda-feira, às nove da manhã, quando os telefones começam a tocar, os clientes começam a reclamar, parece que simplesmente não consigo fazer a transição. Realmente preciso de ajuda!

De algum modo, sinto que meus problemas são realmente de ordem espiritual, mas não consigo encontrar respostas espirituais. Sei que meu casamento parece ser o retrato do sucesso, mas por trás das portas fechadas do meu castelo particular, a vida é muito diferente - eu ficaria envergonhado se você a conhecesse.

Meus filhos já não parecem gostar de passar tempo comigo. Francamente, fechei-os do lado de fora da minha vida por tanto tempo que na realidade não posso culpá-los. Desperdicei mais noites em quartos vazios de hotel do que posso me lembrar. No início, achei que fazia isso pela minha família - para prover-lhe um padrão de vida melhor. Mas agora percebo que de fato o estava fazendo por mim - para minha autogratificação. Talvez eu achasse que isso me faria sentir-se importante. De qualquer forma, confundi os fins com os meios e agora acho que minha família de fato já nem gosta muito de mim.

Conheço uma porção de pessoas, mas sou na verdade um homem muito solitário. Não saberia com quem conversar mesmo que conseguisse colocar minha frustrações em palavras. Não existe prestação de contas de qualquer espécie em minha vida. Ninguém sabe, ou parece importar-se com como estou-me saindo na área das finanças, em meu negócio, com minha esposa, com meus filhos, ou na área espiritual. Sei que você se interessa a nível de grupo, mas estou falando apenas de mim - pessoalmente, individualmente. Não espero que passe pessoalmente tempo comigo, mas gostaria que tivéssemos uma forma de reunir homens para falar a respeito dessas coisas. Acho que daria certo se você realmente promovesse essa idéia.

Francamente, fiz algumas coisas nos negócios de que me arrependo. Tomei atalhos e comprometi a minha integridade. Sinto-me culpado a respeito disso, mas, como ninguém sabe de nada, simplesmente vou em frente fingindo que está tudo bem. Na verdade, não sou muito diferente de qualquer outra pessoa. Muitas vezes pergunto-me se, por trás daqueles sorrisos formais da manhã de domingo, outros homens estariam sentido o mesmo que eu.

Ora, nunca planejei mandar esta carta de qualquer jeito, mas simplesmente tinha de tirar algumas coisas do peito. Realmente gostaria de poder falar-lhe a respeito disso tudo. Há tanta coisa que eu gostaria de saber e preciso de alguém com quem conversar. Bem, acho que o verei no domingo.

Atenciosamente,

 

Há seis observações que podemos fazer desta carta, e são as seguintes observações:

* 1.   O que uma pessoa aparenta por fora pode ser totalmente diferente do que está no seu interior;

* 2.   Sempre temos desculpas para não falar de nós mesmos aos líderes que nos dão cobertura;

* 3.   Os sermões dos pastores edificam, fortalecem, ensinam, mas não dizem “como” superar certos momentos;

* 4.   Muitos crentes levam uma vida interna oculta que não gostariam de tê-la, mas há falta de transparência!

* 5.   Existe, em muitos casos, uma inversão de valores, apesar de se ser um “crente exemplar”;

* 6.   Também ocorre a síndrome de independência, a pessoa diz: “Eu posso me ajudar e superar meu problema sozinho... ninguém precisa me ajudar... ou pode me ajudar”.

 

A carta que li é um pedido de socorro...

O homem da carta reconheceu precisar de ajuda... reconheceu precisar de alguém com quem falar do que estava dentro, escondido (guardado) no seu coração.

Domingos atrás, ministrei com base no texto de Lucas 15... falei da mulher que havia perdido uma moeda dentro de casa e de como ela procedeu a fim de rever o seu valor.

Um valor que a igreja tem perdido é o da Prestação de Contas... nesta manhã eu trago uma palavra de Deus a esse respeito.

 

1. O QUE É PRESTAÇÃO DE CONTAS?

“Prestação” todo mundo sabe: é aquele pagamento que é preciso fazer todo mês por ter comprado algo à prazo. É a geladeira, a televisão, o DVD, o carro...

Mas “Prestação de Contas”, o que é? ...se isto soa como novidade para você, eu tenho anotado as seguintes definições: É a disposição voluntária de alguém apresentar, regularmente, informações importantes de sua vida à pessoas qualificadas.

A Prestação de Contas é uma entrega voluntária de uma área da vida a alguém que confiamos; 

É o reconhecimento de que ninguém caminha sozinho;

Eu gosto muito desta: A Prestação de Contas é uma oferta livre ao direito de ser cobrado.

A prestação de contas, é um ato voluntário.

Não consiste em me chegar à alguém e dizer: “Ande, fale! O que está havendo? O que você fez ou tem feito? Desembucha, qual o seu fardo?” Não! O NT diz para “levarmos” os fardos uns dos outros... levarmos, porque eles precisam ser entregues, confiados, e não tomados à força.

Portanto, a prestação de contas consiste no seguinte: em eu me dirigir à alguém e, voluntariamente, oferecer informações de mim mesmo a fim de receber ajuda. E isto é mandamento recíproco: “Ajudem uns aos outros” (Tg 6.2).

 

2. O PROPÓSITO DA PRESTAÇÃO DE CONTAS

Você pode perguntar: qual é o propósito da prestação de contas?

O propósito é esse: Buscar, com a ajuda de uma pessoa madura, sermos mais parecidos com Jesus em todas as áreas de nossa vida. O grande propósito da prestação de contas, o grande propósito de você estar debaixo da cobertura de alguém, é que você tenha um suporte para que o seu fracasso seja evitado ou seja superado. É visando a isto que a Bíblia manda ajudarmos uns aos outros. Amém?

 

...agora, deixe-me mostrar:

3. A IMPORTÂNCIA DA PRESTAÇÃO DE CONTAS

Primeiro, as pessoas geralmente entram em dificuldades porque tomam decisões e atitudes sem ouvir alguém... elas não alinham seus faróis.

São como um carro em noite escura, transitando por uma estrada de chão, cheia de valas e buracos... o carro tem os faróis acesos, os dois! Mas que adiantam se eles estiverem desalinhados? ...o farol esquerdo iluminando o mato à beira da estrada e o outro, focalizando o alto... a copa das árvores, o cume dos morros... e a estrada mesma não é clareada.

Mas, quando a gente busca conselho, orientação, opinião... os faróis são alinhados... Então enxergamos a estrada e viramos a curva certa!

Segundo, é importante, porque muitos foram atacados pela síndrome de independência, não admitem falar de sua vida a ninguém e sofrem isolados.

Como vamos carregar os fardos uns dos outros se não formos dependentes?

Certa vez ouvi esta frase: “Pessoas precisam de Deus e pessoas precisam de pessoas”.

Sabe, todos os dias há pessoas fracassando moral, espiritual, relacional e financeiramente, não porque querem fracassar, mas porque têm pontos fracos que pensam poder enfrentar sozinhas...

A razão porque as pessoas mais fracassam são as pequenas falhas, os pequenos erros, que vão se somando diariamente, sem que alguém seja informado e mobilizado para ajudar, para oferecer cobertura.

Deus diz que é para ajudarmos uns aos outros... então, não se

questiona, a prestação de contas é importante!

 

...mas, eis algo que não gostamos de fazer:

4. PORQUE AS PESSOAS NÃO GOSTAM DE PRESTAR CONTAS?

Podem ser vários os motivos, mas quero apresentar os principais: As pessoas não gostam de prestar contas, por que não encontraram uma pessoa que as amem e, que se interesse de verdade por elas; 

As pessoas não gostam de prestar contas, por que tem medo de falar de si mesmas e não serem compreendidas;

Não gostam de prestar contas, por que se abrirem o coração, encontrarão muitas coisas entulhadas para falar; 

As pessoas não gostam de prestar contas, por que já sofreram decepção com pessoas que não foram confiáveis;

Não gostam de prestar contas, por que possuem feridas na alma, então, se tornaram desconfiadas de tudo e de todos;

Não gostam, por medo de perder a boa imagem ou causar decepção;

Não gostam, por vergonha de enfrentar a realidade.

Mas apesar de todos os nossos motivos, até razoáveis, a Palavra de Deus diz para levarmos os fardos pesados uns dos outros – e alguém somente levará os meus se eu apresentá-los e entregá-los, se eu me colocar debaixo da cobertura de pessoa mais madura que eu...

 

...isto me leva ao ponto seguinte:

5. PORQUE DEVEMOS PRESTAR CONTAS?

Há uma razão para fazermos isto: a Bíblia – que é a Palavra de Deus – ela fala de prestação de contas:

Na carta de Tiago, lemos que os crentes do primeiro século, confessavam seus pecados uns aos outros.

Em Tg 5.16, está escrito: “confessem os seus pecados uns aos outros e façam oração uns pelos outros, para que vocês sejam curados. A oração de uma pessoa obediente a Deus tem muito poder”.

Ainda na carta de Tiago, lemos que a prestação de contas será um elemento extraordinário para nos livrar do erro.

Lemos isto: “Minhas irmãs e meus irmãos, se algum de vocês se desviar da verdade, e outro o fizer voltar para o bom caminho, 20  lembrem disto: Quem fizer um pecador voltar do seu mau caminho salvará da morte esse pecador e fará com que muitos pecados sejam perdoados” (Tg 5.19-20).

E outra boa razão porque devemos prestar contas aqui é a seguinte: é que um dia, teremos que prestar contas lá.

Você conhece, mas deixe que eu leia Rm 14.12: “...cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus”.

E no livro Eclesiastes de Salomão (12.13-14), está escrito: “De tudo o que foi dito, a conclusão é esta: Tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos porque foi para isso que fomos criados. 14  Nós teremos de prestar contas a Deus de tudo o que fizermos e até daquilo que fizermos em segredo, seja o bem ou o mal”.

Você e eu precisamos vivenciar o valor da Prestação de Contas, porque a Palavra de Deus fala para fazermos isso.

 

...e, finalmente:

6. DE QUE ÁREAS DA NOSSA VIDA DEVEMOS PRESTAR CONTAS?

Em primeiro lugar, devemos prestar contas do nosso relacionamento com Deus – da nossa vida devocional;

Relacionamentos familiares;

Uso do dinheiro e do tempo;

Comportamento moral e ético;

A vida mental;

Áreas de luta pessoal.

Esse ato de prestar contas entre os irmãos, permite que a fraqueza e o pecado sejam rapidamente localizados... quando ainda podem ser tratados em particular, antes que outras pessoas sejam feridas.

E sabe, quando não existe o hábito de prestar contas, o Espírito Santo precisa agir trazendo uma dor mais forte e a correção pública dos filhos de Deus.

 

CONCLUSÃO

Irmãos, a Prestação de Contas é um daqueles valores do Reino de Deus que temos perdido, mas que precisamos procurar até encontrar.

Na Bíblia lemos: “Melhor é serem dois, do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante” (Ec. 4:9-10).

E lemos também: “Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e façam oração uns pelos outros, para que vocês sejam curados” (Tg. 5:16).

Oremos pela restauração desse valor à igreja.

 

Mensagem do Pr Walter Pacheco da Silveira, domingo, 23.10.2005

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