DESCOMPLIQUE SUA VIDA EM COMUNIDADE
Tiago 5.13-20
Eu já estou pra finalizar essa série de mensagens chamada Descomplique. Mais um final de semana e a gente conclui.
Esta é uma série de mensagens baseada na carta de Tiago, que nos desafia a descomplicar importantes áreas da vida: descomplicar nossas crises, nossa agenda, nossa fé, nossos relacionamentos, nossa visão do sofrimento, nossa visão da história, vimos sobre isto no Domingo passado.
E hoje, começando a ir para o encerramento, o desafio é: Descomplique sua vida em comunidade.
E é muito sugestivo o fato de Tiago deixar para os últimos versos da sua carta, esse tema.
Você que tem acompanhado esta série, já sabe o que vou dizer, mas, tenha um minuto de tolerância pra eu poder localizar aqueles que estão aqui hoje pela primeira vez e aqueles que não conseguiram pegar toda a série.
Tiago escreve para discípulos de Jesus que estavam enfrentando um período de grandes adversidades. É que uma perseguição aos cristãos foi iniciada na cidade de Jerusalém, no primeiro século, e por conta disso, muitos cristãos foram dispersos pelas mais variadas cidades do Império Romano.
Esses cristãos, portanto, haviam deixado pra trás as suas casas, as suas profissões, os seus negócios, os seus bens materiais... eles estavam como esses refugiados sírios, que têm fugido dos conflitos do seu país para sobreviver.
No primeiro século, os cristãos que foram se refugiar no estrangeiro, muitos, muitos deles, se viram oprimidos e explorados.
É que pessoas do lugar, ricas e poderosas, vendo a fragilidade deles, tiravam proveito da força de trabalho deles, sem dar a eles os devidos direitos. Eles trabalhavam e não recebiam, ou trabalham apenas para ter aonde dormir e o que comer. Aqueles cristãos estão sendo oprimidos e explorados.
Então, Tiago escreve esta carta para encorajá-los, e ele insiste num tema: perseverança. Ele os desafia a se manter firmes e perseverantes diante das lutas e das dificuldades que estão enfrentando.
Tiago diz para eles: “Existe adversidade, persevere. Existe dificuldade? Se mantenha firme”. Essa é a palavra de Tiago.
Com isso, nesse contexto, é que surge o tema da vida em comunidade. E aí que é muito sugestivo, porque quando nós estamos enfrentando adversidades, quando nós estamos vivendo um problema ou um período difícil, como é bom a gente poder contar com uma comunidade.
Quando a gente tem que se manter firme num propósito, como é bom a gente ter pessoas do nosso lado que possam nos encorajar, dizendo, naquele momento em que a gente tá pensando em desistir: “Fica firme. Não desanime”. Como nós todos precisamos disso!
Mas, sabe, apesar da necessidade de ter um grupo de pessoas que ajudam por perto, alguns dos cristãos do primeiro século, devido às perseguições, estavam abandonando a vida comunitária dos cristãos, estavam abandonando o grupo, abandonando a igreja.
É claro, alguns estavam abandonando o grupo dos cristãos, a vida na comunidade deles, por uma questão de covardia. Eles não queriam ser identificados como cristãos, então, estavam simplesmente abandonando a vida comunitária.
É como se dissessem: “O que? Estão matando os crentes. Estão queimando vivos os discípulos de Jesus! Eu vou largar mão disso, não quero ser cristão mais. Igreja pra mim, acabou”. Então, por covardia, alguns estavam abandonando a comunidade cristã.
Outros, no entanto, começaram a desenvolver uma tese que até hoje, interessante, 21 séculos depois, continua em moda. É a tese de que cristãos não precisam de comunidade, não precisam viver a vida cristã em grupo. O pensamento deles era: o negócio é seguir a Jesus; não precisamos de igreja, não precisamos congregar com ninguém.
Assim surgiu uma espécie de cristãos autônomos, que não tinham a necessidade de comunidade, e por sinal, comunidades cristãs são complicadas, igrejas são complicadas, tem líderes complicados e pessoas complicadas. Então, eles pensavam que não tinham a necessidade de comunidade. Eles se bastavam.
Como consequência disso, surgiu e surge nesse grupo que abandona a vida em comunidade, um esfriamento da fé.
É uma consequência quase que natural na vida de qualquer um que se diz cristão, se diz discípulo de Jesus: se afastou do convívio da igreja, do convício da comunidade cristã, gradativamente começa a esfriar; gradativamente começa a ceder nos valores e nos princípios de Deus; gradativamente começa a se perder.
Um monge do século 16 chamado São João da Cruz, atento à isso, ele já dizia: “A alma virtuosa que está só... é como a brasa que está só. Em vez de esquentar, ela tornar-se-á cada vez mais fria”. Essa é uma grande verdade. Se retiramos da fogueira uma brasa vermelha de fogo, vermelha de calor, se nós a afastamos, ela vai se perdendo.
Eu não sei porque nós insistimos em desafiar essa verdade! Constantemente, achamos que com a gente vai ser diferente e não vai.
E nesse contexto do primeiro século, um escritor contemporâneo de Tiago, que escreveu a carta que temos no Novo Testamento e chamada Carta aos Hebreus, ele, preocupado com esse problema, escreveu (Hb 10.25): “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia”.
“Não deixemos de reunir-nos como igreja”. Por que? Porque ele também estava atento a este problema de pessoas, no primeiro século, que estavam abandonando a convivência com os outros cristãos, a convivência da comunidade cristã, porque ele diz, “segundo o costume de alguns”.
Então, certo da importância da vida em comunidade, o que é que Tiago tem pra nos dizer sobre como descomplicar a vida em comunidade?
Vamos ler o trecho da carta que está em Tiago 5.13-14.
A primeira coisa que Tiago coloca: se você quer descomplicar a vida em comunidade, passe a exercitar a empatia.
O que é isso? Simpatia a gente sabe. Aqui tá cheio de gente simpática. A pessoa ao seu lado aí, é uma simpatia, olha só!
Mas, e empatia? Empatia é a capacidade que uma pessoa tem ou pode empenhar-se pra ter, de se identificar com outra pessoa nos seus sentimentos, nos seus desejos, nas suas realizações, nas suas necessidades... é a capacidade de sentir o que o outro sente.
Para descomplicar a vida em comunidade, a primeira colocação que Tiago faz, é essa: exercitar a empatia.
Por que? Porque nós vivemos numa sociedade altamente individualista, consumista e hedonista, e nós, homens e mulheres, cristãos que somos, estamos dopados por essa cultura.
Temos o vício de sermos individuais, interessados em nós mesmos, em só consumir o que nos agrada e hedonistas, porque o maior bem é o meu prazer, a minha satisfação, a minha felicidade.
Em todo lugar que você for, essa é a cultura: queremos ser servidos. Inclusive quando nos reunimos como comunidade, como igreja, o que nós mais queremos? É ser abençoados, ser tocados pela Palavra, ser sensibilizados pela música do louvor, ser saudados pelos outros.
Nós gostamos que as pessoas percebam quando estamos tristes ou quando estamos alegres, porque assim nós recebemos!
Tiago, nesse ponto, nos desafia a inverter esse fluxo. Olha o que ele diz no v.13-14: “Entre vocês há alguém que está sofrendo? Que ele ore. Há alguém que se sente feliz? Que ele cante louvores. Entre vocês há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros da igreja, para que estes orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor”.
Veja a repetição na primeira e na terceira linha, dessa expressão que Tiago fala “entre vocês”.
Ele está se referindo aos cristãos, aos discípulos de Jesus. Ele está dizendo: “Na vida comunitária, na comunidade, na igreja que vocês formam, existem pessoas que estão sofrendo, existem pessoas que estão felizes, existem pessoas que estão doentes... algumas estão doentes fisicamente, outras estão doentes emocionalmente e outras, estão tão doentes a ponto de, apesar de pertencerem à comunidade, elas não podem participar da vida da comunidade, porque estão acamadas e precisam chamar os presbíteros, isto é, os líderes da igreja, para que orem por elas e assim poderem ser abençoadas pela própria comunidade através dos seus presbíteros ou líderes”.
Perceba duas coisas que Tiago está falando insistentemente: primeiro, na nossa comunidade existem pessoas com diferentes sentimentos. Tem as que estão sofrendo e tem as que estão felizes.
E dessas pessoas que estão sofrendo por alguma razão ou que estão felizes por alguma razão, Tiago diz para que elas orem e para que cantem louvores. Ele diz: “Entre vocês há alguém que está sofrendo? Que ele ore. Há alguém que se sente feliz? Que ele cante louvores”.
Mas perceba o seguinte: a pessoa que está sofrendo, ela deve orar, mas não orar sozinha no seu cantinho, é orar no contexto da comunidade, é orar acompanhada pelo grupo, pela igreja! A comunidade acompanha a oração que ela faz e diz “amém, que assim seja, Senhor”.
E da mesma forma, a pessoa que está feliz, Tiago fala “que ela cante louvores”. Mas não é no sentido dela cantar debaixo do chuveiro, tomando banho na casa dela e então, cantar sozinha. Tiago diz que ela cante louvores no contexto comunitário, que as pessoas que estão ao redor dela, no grupo dela, na célula dela, na igreja dela, passem a cantar junto com ela!
É muito lindo isso! Quando se vive em comunidade, a pessoa que está doente, ela não sofre a enfermidade sozinha, solitariamente. O que ela faz? Ela pede para que a igreja, o grupo, a comunidade, participe daquela dor com ela, porque Tiago diz que ela deve: mandar chamar os presbíteros da igreja.
Em Rm 12.15, o apóstolo Paulo já tratava sobre isso, quando escreveu aos cristãos de Roma, e ele usa dois imperativos: “Alegrem-se com os que se alegram; chorem com os que choram”.
Olha, dois imperativos, dois imperativos altamente complicados. Por que? Porque chorar com o que chora, implica em que eu abra mão do meu momento de felicidade pra sentir a dor do outro.
E numa sociedade individualista, consumista e hedonista como a nossa, isso parece ser um absurdo. “Como que eu vou abrir mão do meu momento de felicidade? Eu tô tão bem hoje, tão animado!”
Sabe quando vem aquela pessoa que você sabe não está bem? Ela vai passar por você pelo corredor ou pela calçada da rua, e o que a gente faz? A gente que não quer ter o dia comprometido, a alegria roubada, então a gente disfarça e sai pro outro lado sem a pessoa perceber, porque nós não queremos estragar o nosso dia.
Às vezes acontece assim: A gente cumprimenta alguém, dizendo: “Boa noite! Tudo bem com você?” E quando a pessoa ameaça dizer: “É, tudo bem, mas eu tenho enfrentando algumas lutas”... o que a gente faz? Saímos de fininho, nós respondemos: “É, a vida não é fácil mesmo. Mas, olha, Deus te abençoe. Eu vou estar orando por você. Tiau! Passar bem! Deus te abençoe!” A gente evita entrar em contato com a dor do outro.
Por que? Porque nós refletimos essa cultura que, não está na sociedade, está é dentro de nós, somos homens e mulheres altamente individualistas, consumistas e hedonistas.
Agora, e quando se trata de se alegrar com os que se alegram? É tão difícil quanto chorar com os que choram.
Mas é? Veja, o apóstolo Paulo está dizendo pra eu me alegrar com aquele que está alegre.
Mas, pensa: imagine que existe aqui, um irmão no nosso meio hoje, que em plena crise financeira, essa semana, recebeu uma promoção e vai ganhar duas vezes mais do que ele ganhava. Ele tá rindo à toa, tá alegre, mas você continua com o seu salário devassado e atrasado do governo e já vai virar outro mês.
Imagina que existe uma pessoa aqui, no nosso meio, que fechou um negócio essa semana, conseguiu o financiamento e comprou uma casa, vai se mudar para a casa própria nos próximos dias! E você vai continuar amargando no aluguel de todo mês.
O apóstolo Paulo diz: a gente precisa aprender a se alegrar com quem se alegra. A gente precisa aprender a chorar com quem chora.
E, interessante que tudo isso se dá no contexto de comunidade, no contexto de igreja, no contexto de grupo de cristãos.
O psiquiatria cristão Paul Tournier, já disse que existem duas coisas que não podemos fazer sozinhos, uma é casar e a outra é ser cristão. Não dá pra você casar sozinho. Tem que ter uma costela de gênero diferente do seu, porque isso que é casamento.
E a outra coisa que não podemos fazer sozinhos, lembrada por Tournier, é ser cristão. Porque os imperativos de mutualidade só podem ser vividos em comunidade.
Pra você saber. A Bíblia está cheia de mandamentos recíprocos, do tipo: Amai-vos uns aos outros, levai as cargas uns dos outros, consolai-vos uns aos outros, etc. São 25 mandamentos desses na Bíblia! Eles estão por todas as partes do Novo Testamento.
Assim, quando nós estamos enfrentando um tempo difícil, nós precisamos ter pessoas com vida espiritual ao nosso lado, nós precisamos de gente da igreja que se aproxime de nós e com sensibilidade, nos encoraje, nos ajude a enfrentar a luta.
E quando nós estamos alegres, também precisamos de pessoas que não transmitam inveja nem desdém pro nosso momento de alegria. Precisamos de pessoas que consigam celebrar conosco!
E você percebeu que os momentos de alegria, não fazem sentido se você não tiver com quem compartilhar? O momento de alegria só é ardente, explosivo, exuberante, quando temos pessoas queridas ao nosso redor pra celebrar conosco.
Hoje eu e Tânia fomos conhecer o bebê de Aline e Léo. Eles estão alegres demais com a chegada do Mateus. E eu pude ver isso neles: a celebração desta alegria com os familiares e com aqueles que vão visitá-los.
É importante ter vida comunitária. Por isso que nós precisamos estar junto de pessoas da comunidade cristã. É para termos quem venha ao nosso encontro e nos acolha na tristeza e nos acompanhe na celebração das nossas alegrias.
O sábio que escreveu o livro de Eclesiastes (4.9-10), uns 3 mil anos atrás, ele já dizia: “É melhor ter companhia do que estar sozinho... Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar. Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levantar-se”.
Pobre do discípulo de Jesus que cai e não tem quem o ajude a levantar-se.
Você quer descomplicar sua vida em comunidade? Passe a participar dela, a participar da igreja, não com a postura de receber, mas com a postura de dar, de se juntar ao sofrimento ou a alegria dos outros.
Não tenha a postura de ser servido, mas a postura de servir, de estar disponível para aqueles que sofrem e de estar celebrando junto com aqueles que se alegram.
Eu te garanto uma coisa: você vai ter a sua vida tão plena de sentido, tão cheia de realizações, que você vai dizer: “Por que não descobri isso antes!”
Participar da vida comunitária, participar da igreja, do grupo de cristãos, é mais do que ir pra uma reunião onde ouvir boa música, boa pregação. A boa música de louvor, a boa pregação da Palavra de Deus pertencem à vida em comunidade, mas a vida em comunidade vai além de estar na reunião. É ter com quem poder contar na alegria e na tristeza.
Descomplique sua vida em comunidade. Não viva sozinho, sem grupo, sem célula, sem congregar.
Amém?, Pr Walter Pacheco da Silveira, 12/11/2017
Baseado em IP Chácara Primavera